Carlo Ancelotti: Caminho certo, mas a direção é correta?
A Seleção Brasileira atravessa sua maior crise de identidade nos últimos tempos. Sem conquistar um título mundial desde 2002 e com um futebol que já não encanta, a pentacampeã mundial vê sua imagem desgastada junto aos próprios torcedores. É neste cenário que surge a chegada de Carlo Ancelotti.
A CBF, por meio de um pronunciamento de seu presidente, Ednaldo Rodrigues, confirmou Ancelotti como novo treinador da Seleção Brasileira. O italiano deve iniciar os trabalhos ao final do Campeonato Espanhol, com sua primeira convocação prevista para o dia 26 de maio.
Com um currículo consagrado, Ancelotti é o único treinador da história a conquistar cinco títulos da Champions League e também cinco das principais ligas nacionais da Europa. No total, acumula 32 títulos, tendo comandado brasileiros ilustres como Cafu, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno e, recentemente, Casemiro, Vinicius Júnior e Rodrygo.
( Imagem gerada por IA: Carlo Ancelotti com a camisa da seleção brasileira)
Contratação correta, mas e os caminhos da CBF?
Enquanto a contratação representa um acerto técnico, ela ocorre em meio a uma CBF repleta de polêmicas. O período pós-Tite foi marcado por instabilidade, com as passagens efêmeras de Ramon Menezes e Fernando Diniz, culminando na contratação e rápida substituição de Dorival Júnior.
Se o Brasil conquistar o hexa, o "projeto Ancelotti" será celebrado como um sucesso. Poucos lembrarão dos constrangimentos, da gestão imediatista ou da camisa vermelha que surgiu como cortina de fumaça para despistar o acerto com o italiano.
Na hipótese de fracasso, os erros serão atribuídos ao "histórico" recente do futebol brasileiro. O caminho parece certo, mas será que a direção está correta? A chegada de Ancelotti se dá no maior momento de fragilidade política da gestão de Ednaldo.
A contratação do renomado treinador "esconde" graves denúncias contra a entidade. Uma apuração realizada pela deputada Daniela Carneiro acionou o STF pedindo o afastamento de Ednaldo e a revisão do acordo que encerrou uma ação sobre o processo eleitoral da CBF. O pedido apontou possível falsificação de assinatura e incapacidade cognitiva do ex-vice-presidente na época do documento.
Vale lembrar que recentemente Ronaldo Fenômeno desistiu de se candidatar à presidência da CBF, esbarrando na cláusula que exigia apoio de federações estaduais e clubes. Com sua desistência, Ednaldo ficou com o caminho livre para a reeleição.
Entre a esperança técnica e o descrédito institucional
A chegada de Ancelotti representa um paradoxo que sintetiza o momento atual do futebol brasileiro. De um lado, um dos maiores treinadores da história, com capacidade comprovada de gerir grandes talentos e conquistar taças. Do outro, uma entidade mergulhada em crises institucionais e questionamentos sobre sua legitimidade.
O desafio do italiano vai além de esquemas táticos. Ele precisará navegar por um ambiente político turbulento enquanto tenta reconectar a Seleção com um povo que já não se vê representado pela camisa verde-amarela. Sua excelência técnica pode ser o “remédio” para os problemas em campo, mas a “doença” que aflige o futebol brasileiro tem raízes nas estruturas de poder da entidade brasileira.
O sucesso esportivo não pode servir como cortina de fumaça para problemas estruturais. A verdadeira transformação do futebol brasileiro depende tanto de vitórias em campo quanto de uma revolução na gestão de suas instituições. Ancelotti pode ser o caminho certo para o hexa, mas a direção da CBF ainda levanta sérias dúvidas sobre o futuro sustentável do nosso futebol.