Esquece: a mídia esportiva muda pra sempre em 2025
A Cazé TV muda para sempre a maneira como consumimos esportes no Brasil - e como a mídia esportiva faz negócios.
A Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2025, nos Estados Unidos, acabou nesse domingo.
Mas esqueça o Chelsea, primeiro campeão do novo torneio. Esqueça PSG e sua grande campanha. Esqueça a imagem positiva que os clubes brasileiros deixaram. Esqueça a FIFA, que conseguiu colocar essa Copa goela abaixo para cima da UEFA. Esqueça a Rede Globo e sua cobertura para todo Brasil. Não existe nada e nem ninguém que sai tão vitorioso dessa Copa do Mundo quanto a Cazé TV.
Somente nos últimos 30 dias, de acordo com a plataforma de mensuração Socialblade, o canal da Cazé TV no YouTube ganhou mais de 2,5 milhões de novos inscritos, atingindo a marca de mais de 22,1 milhões contas que seguem o canal na maior plataforma de streaming do mercado. Mas não foi o torneio que fez a Cazé TV crescer assim - esses resultados são fruto de uma estratégia muito bem executada pela Live Mode, empresa dona do canal.
Apesar de existir desde 2019, quando Casimiro Miguel resolveu se arriscar mais criando conteúdo em suas próprias redes, foi em 2022 que a Cazé TV conseguiu um avanço significativo para sair do nicho e cair no conhecimento geral do brasileiro: a transmissão de alguns jogos da Copa do Mundo da FIFA de 2022. Depois disso, vieram jogos pontuais do Campeonato Brasileiro em parceria com o Athletico para fazer volume junto as transmissões dos estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro, que já faziam parte do portfólio da empresa.
Em 2024, outro forte ponto de virada: a Cazé TV cobriu as Olímpíadas de Paris, transmitindo várias modalidades ao vivo e fortalecendo o produto olímpico nas plataformas digitais. Usando toda a expertise que tem por ser nativa desse meio, o canal deu um baile de cobertura nas rede - ajudou a trazer atenção para esportes nichados e trouxe uma grande audiência para as redes dos atletas brasileiros.
Em 2025, a boa parceria com a FIFA seguiu e a Cazé conseguiu os direitos para transmitir a primeira Copa do Mundo de Clubes da história. Ouso dizer que, diferente do que aconteceu com a Copa de 2022 e as Olímpiadas, quem abrilhantou o produto da FIFA foi o canal do YouTube. E me parece que a FIFA esta extremamente contente com os resultados da parceria, já que ontem o canal da Live Mode confirmou que vai transmitir todos os jogos da Copa do Mundo de 2026, a maior da história em volume de jogos (serão 104 ao todo).
Ameaça real para a TV aberta?
Em algum momento da história, as pessoas riram sobre a possibilidade da Barnes and Noble deixar de ser a maior vendedora de livros dos Estados Unidos quando uma tal de Amazon resolveu vender livros online. Hoje, a Barnes and Noble é uma empresa avaliada em US$ 370 milhões que luta para sobreviver, mudando seu modelo de negócio para focar em autores independentes. A Amazon, por outro lado, é avaliada em US$ 2,39 trilhões e vende, somente em livros, todo o valor de mercado da Barnes and Noble por semana.
A lição acima deixa claro que quem é líder de mercado não pode descansar e, muito menos, subestimar a ascensão de quem atua em segmentos nichados. A Cazé TV é uma ameaça real para as redes de TV aberta do Brasil.
Mas não acredite no que eu digo, acredite no comportamento da líder de mercado, a TV Globo, que veio a público com dados para comprovar que a sua transmissão do mundial de clubes teve “um alcance 949% superior ao de um streaming concorrente, com vantagem de 451% entre adolescentes de 12 a 17 anos e de 402% entre jovens de 18 a 34 anos”.
Essa necessidade de validação não é direcionada a nós, que consumimos o campeonato. Ela é direcionada ao mercado de mídia e de anunciantes. O movimento de grandes marcas fechando parcerias com a Live Mode para a transmissão dos jogos do Brasileirão 2025 deve ter ligado um sinal de alerta na gigante carioca, que não mais vê Camisiro como um simpático criador de conteúdo, mas sim como um competidor que pode arruinar o seu negócio no longo prazo.
Se para clubes e federações, a Copa do Mundo de Clubes de 2025 foi só mais um torneio na temporada, para mídia esportiva brasileira pode ter sido o torneio que mudou para sempre a dinâmica desse mercado.