Gramado sintético ou natural: como são os campos ao redor do mundo?
Debate movimentou o futebol brasileiro: conheça como os outros mercados e ligas lidam com a questão!
As redes sociais, programas de debates, reportagens e mesas de bares foram dominadas pelo eterno debate entre gramado sintético ou natural: qual é melhor? Toda essa movimentação foi impulsionada por uma manifestação coletiva de diversos jogadores dos principais clubes da Série A nas últimas semanas.
Neymar (Santos), Thiago Silva (Fluminense), Lucas Moura (São Paulo), Gabigol (Cruzeiro), Dudu (Cruzeiro), Cássio (Cruzeiro), Memphis (Corinthians), Garro (Corinthians), Gerson (Flamengo), Arrascaeta (Flamengo), Coutinho (Vasco), Bruno Henrique (Inter), Alan Patrick (Inter) e David Luiz (Fortaleza) foram alguns dos nomes que se declararam contra o gramado sintético.
Automaticamente os clubes que possuem o campo com grama sintética saíram em defesa de seus estádios. Palmeiras, Botafogo e Athletico são times que optam pelo sintético e dizem que seus gramados possuem a certificação mais alta da FIFA, a FIFA Quality Pro. O Galo está fazendo a instalação do sintético e também publicou nota defendendo a escolha.
Thairo Arruda, CEO da SAF do Botafogo, em uma entrevista ao GE no ano passado, defendeu o gramado sintético e levantou pontos importantes que jogam a favor do “tapetinho”. O campo artificial tem custos de manutenção mais baratos comparados ao campo natural: gastos como corte de grama, irrigação, e uso de adubo, por exemplo, não entram na conta.
Outro fator importante é a modernização e multi-utilização dos estádios. O gramado sintético viabiliza, com mais facilidade, que os estádios possam receber shows e eventos, multiplicando a fonte de renda para o clube.
O movimento encabeçado pelos jogadores ficou conhecido como “Futebol É Natural, Não Sintético” e pedia que a grama natural fosse obrigatória nos estádios brasileiros. O post ainda comparava o futebol nacional com as principais ligas do mundo, dizendo que “nas ligas mais respeitadas do mundo os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado nos estádios”.
A publicação ainda termina dizendo que para o Brasil estar inserido como protagonista no mercado do futebol mundial, deveria ser exigido um piso de qualidade para os atletas.
E fora do Brasil, como são os gramados?
Quando o assunto são as principais ligas da Europa, a verdade é que é bem raro ver gramados 100% sintéticos por lá. O uso de grama artificial é restrito e os clubes das primeiras divisões das top 5 ligas (Inglaterra, Espanha, França, Itália e Alemanha) que optam pela grama sintética fazem a combinação com a natural, resultando na grama híbrida. Isso quando é permitido ter algum material sintético na composição.
Holanda se juntou a França e Alemanha quando, recentemente, proibiu o uso dos gramados sintéticos e a partir da temporada 2025/26 os clubes terão que usar grama 100% natural nos estádios da primeira divisão. Outro fato que rola nos Países Baixos é que desde 2018 a liga incentiva com ajuda financeira a manutenção dos gramados naturais, movimento que certamente seria bem-vindo no nosso futebol.
Na Liga dos Campeões o gramado natural é consenso, apesar de não ser proibido o uso de artificiais. A única exigência é que a final seja disputada em grama natural. O sintético ganha popularidade quando o assunto são países com climas mais extremos, o que dificulta o plantio e o cuidado com a grama verdadeira.
O único clube na atual edição da Champions que manda seus jogos em um gramado totalmente sintético é o Young Boys da Suíça. Clubes sediados em lugares frios e pouca incidência solar costumam dar mais prioridade para campos artificiais, por exemplo.
Enquanto isso, na terra do futebol com a bola oval a tendência muda um pouco. Na NFL não há uma regra ou preferência da liga em relação ao material dos gramados, segundo Luiz Martínez, diretor-geral da NFL no Brasil. O que se preza é que os campos estejam com qualidade adequada para os jogadores. Uma equipe especializada assegura o padrão de qualidade dos estádios que recebem os jogos.
Dos 32 times da liga, quase metade utilizam grama artificial, segundo o levantamento do The Athletic. Muitos desses estádios serão usados na Copa do Mundo de 2026, jogada nos Estados Unidos. Ao todo serão 16 arenas que receberão partidas do mundial, e 8 delas têm gramado sintético que serão trocados para a competição da FIFA. Desses 16 campos, alguns são usados na Major League Soccer também.
Apesar de não exigir gramado natural, a NFL e seus campos sintéticos já foram alvos de críticas. Principalmente depois da lesão de Aaron Rodgers, em 2023, no tendão de Aquiles. Ele fazia sua primeira partida pelo New York Jets quando se lesionou no MetLife Stadium — um dos estádios que colocará grama natural para a Copa do Mundo.
Afinal, tem resposta?
O debate entre grama natural e sintética no futebol brasileiro está muito longe do fim e vai além de uma simples escolha técnica: é uma discussão que envolve qualidade de jogo, saúde dos atletas, custos de manutenção e modernização dos estádios. Muita coisa entra na balança.
Enquanto os jogadores defendem a grama natural como essencial para a integridade física e a qualidade do espetáculo, alguns clubes apontam os benefícios econômicos e a versatilidade do sintético, especialmente em um cenário onde os estádios precisam ser multifuncionais para gerar receita.
A pergunta que fica é: não vale a pena investir em gramados naturais bem cuidados, com o auxílio da CBF e um papel mais ativo exigindo campos com condições ideais para os atletas, ou o sintético é realmente o futuro inevitável?